Não havia mais nada entre nós. Será que então poderia haver algo entre nós? No meu entorpecimento eu fui sem ver aonde, senti sem saber o que, de novo a sensação de não acredito, e palavras sussurradas no ouvido, mas que ecoavam guturais no cérebro, e eu era uma marionete sua, desprezando atrito e resistência, sem me importar com o pó. Tudo para poder te ver depois e poder guardar o seu rosto na carteira.
Então veio o vazio, o oco, o nada. Foi quando eu descobri que você era etéreo, e a sua onipresença e autocoletivização eram uma faca que doía cada vez mais nas minhas tripas. E ainda assim eu temia te perder de vista, temia ser, entre todas, acometida por uma cegueira (não poderia mais te olhar na carteira). Eu não quis te procurar, mas era em vão porque você estava lá, ocupando todos os espaços vazios. Eu não queria que você lesse os meus pensamentos, mas você era meu sistema nervoso. Eu não queria que você me visse nua, mas você era meu espelho. Eu não queria que você ganhasse esse jogo, mas você criou o jogo. Eu não queria que você me fizesse gostar de você, mas você é você.
E na angústia da nossa madrugada em claro, eu já não sei o que é pior: você saber o que eu sinto ou achar que eu não sinto nada.
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ótimo início e belo finale.
ResponderExcluirrecheio suculento.