terça-feira, 15 de setembro de 2020

vamos voltar a ser estranhos


vamos voltar a ser estranhos

por detrás das nossas telas

banhadas em álcool-gel

e formalidades


de quem convive com a cor

da tinta errada na parede

das madeiras diferentes dos móveis

da mancha de café no sofá


na constante inconsistência

entre nossas rotinas e objetivos

o que fazemos e o que queremos

ontologia e idealização


somos o que comemos

sonhos doces e máquinas voadoras

máquinas doces e sonhos voadores

despedaçados no chão


como um vidro de geleia

esquecido numa geladeira

em outra cidade


de quem convive com a dor

da mancha de vinho na parede

da nota fora da harmonia

do lugar vazio no sofá


a angústia vem num rompante

como uma crise de espirros

que nada mais é que um orgasmo

uma perversão


a contingência de Montaigne

o copo de design escandinavo

meio vazio